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27.10.21

MENTIRAS

 MENTIRAS


"Todos somos iguais"

Diga ao bater as portas de um palácio.

"Siga sempre teu caminho"

Qual?

"Não mintas"

Fale sempre a verdade diante de teus inimigos

"A paz é o que importa"

É o que costuma sair da boca dos ditadores

"Adultério e crime"

Por que perdoa? Por que traí?      

"Não inveje as coisas alheias"

Tire os olhos daquilo que não é seu

"Todos merecem o céu"

Repita quando estiver no inferno

"Não seja orgulhoso"

Aceite o gozo alheio

"Tenha fé"

Não esqueça dela no enterro de seu filho

"O pouco basta"

Festeje quando não sobrar sequer um naco de pão

"As mães são sagradas"

Mesmo as que abandonam?

"Sou livre de preconceitos"

Pare de separar povos: por raças

"Não insulte"

Portanto aceite de bom grado, as dirigidas a você

"Não revide"

Ofereça sua 'cara' com prazer

"Meu pai, meu herói"

Sempre, mesmo quando não souber quem é o seu

"Nada vale mais que um sorriso"

Principalmente daquele que te venceu

"Lágrimas traduzem a verdade"

Mesmo a dos traidores

"Cada um têm aquilo que merece"

O que realmente merecemos?

"Que o homem não separe aqueles que Deus uniu"

Viva infeliz

"O amor é eterno"

Diga adeus sorrindo quando for abandonado

"O dia é belo"

Os apaixonados preferem a noite

"Vive-se apenas uma vez'

Não carregue lembranças das 'outras'

"Aceite teu destino"

Toma para si todas as dores

"Sempre haverá alguém a teu lado"

Se não encontrar a 'mão amiga' na hora da sua morte, lamente-se sozinho até seu fim

"Deus é único"

Verdade! Então por que dividi-lo?

"Diga sempre a verdade"

Mentira!

"No abandono ou no tormento encontrará forças para prosseguir"

Verdade?


5.10.21

O canteiro das margaridas.

O canteiro das margaridas.

 

Aspira-se polem, expira-se flor.

 

 Onze de maio de 2018.

Os dedos de Allana percorrem delicadamente as margaridas, repousadas em canteiros, ela inspira profundamente levando até seus pulmões o frescor da manhã.

Seus pensamentos entorpecidos, despertam com uma figura estranha correndo animadamente, seguida por outras percorrendo o mesmo caminho, com a mesma avidez.

Allana adentrou o coração do jardim, não desejava a companhia incômoda, de atletas matinais.

Usava um vestido azul de botões e não se perdoou por esquecer o casaco.

Sentou-se em seu banco cativo, de frente ao mais belo e robusto canteiro de margaridas, tão denso que era quase impossível observar o solo.

Em  seu lugar de sempre, perpetuava pensamentos enquanto, embebia-se da seiva branca, dançando ao vento.

Allana esfregava as mãos, em um movimento repetitivo, ora a esquerda sobre a direita, ora a direita sobre a esquerda, continuadamente sem pausa, sem descanso.

— Com frio?

Perguntou-lhe um idoso, cuja aproximação não havia pressentido.

 Que inconveniente —  pensou.

— Posso me sentar?

Não desejava ser rude com o senhor, então mesmo a contragosto consentiu.

— Tenho um casaco extra, posso lhe oferecer, espero não estar sendo abusado.

Era tudo o que ele estava sendo, mas novamente Allana concordou.

O velho entregou-lhe o casaco.

— Obrigada. — respondeu — Costuma sair com dois casacos?

— Às vezes.  Admirando as flores?

— Sempre!

— Este canteiro é o mais antigo da praça, tem mais de cem anos, margaridas morrem, margaridas nascem, e ele sempre estará aqui.

— Sempre venho aqui e não me lembro, de tê-lo visto.

— Nem sempre nos damos conta,  do que está em nossa frente.

— O senhor é um poeta?

— Não, sou só um velho. Meu nome é Danrlei. Qual é o seu?

Allana  sorriu,  era um  senhor educado, talvez tão solitário quanto ela, procurando apenas, alguns minutos de conversa amena, concluiu.

— Amo margaridas,  o senhor gosta?

— Muito!

— Em especial gosto destas aqui. — Allana completou.

— Este canteiro traz uma triste história, uma mácula.

— Mesmo! Estranho nunca ouvi falar.

— Foi a muitos anos, quantos anos tem?

— Vinte e três.

— Foi a oitenta anos, não me admira que nunca tenha ouvido.

— Gostaria de ouvir se não for lhe incomodar.

 

Batista sentou-se a cabeceira da mesa, esperando o jantar, ser servido por sua jovem esposa, enquanto preparava seu cigarro.

Suas mãos tremulas  colocavam a comida no prato do marido.

— O que de útil  a senhora  fez hoje? — Perguntou a esposa.

— Meus afazeres, de sempre, senhor.

— A casa está suja, há pó na mobilha, a escada não foi lavada, minhas camisas não foram  engomadas, meus sapatos não estão polidos, quer que continue?

— Peço perdão senhor,  a barriga, já  me é muito pesada.

A jovem puxou a cadeira para sentar-se à mesa, então foi advertida.

— Não sente, não me aborreça com sua presença.

Menos de trinta dias depois a jovem esposa, deu à luz ao primeiro e único filho do casal.  Um menino forte de olhos verdes como os da mãe.

Ao contrário do que ela imaginou, Batista só aumentou sua crueldade, sem família, casada com um homem trinta anos mais velho.  Ela  decidiu-se pela fuga, qualquer coisa era melhor que aquele inferno.

Carregaria consigo poucas roupas, algum dinheiro do avarento, pois, sabia onde ele o escondia,  seu filho  de dois meses e  toda a coragem que ainda lhe restava.

Partiria para  Porto Alegre, e de lá para São Paulo, na certeza de que Batista,  jamais os encontraria.

A noite de sexta-feira, era perfeita, o marido jogava carteado, regado a vinho  com os amigos e  mulheres, quase sempre chegando bêbado ao raiar do dia.

Vinte três horas marcava o relógio, a jovem partiu com o filho nos braços.

A lua de uma noite fria de maio, não apenas  iluminava as ruelas escuras,  como também  a delatou a um amigo de seu marido, ela apressou-se, dando-se conta que não demoraria para ser alcançada.

Imaginou  que sua única chance era esconder-se nos jardins da  praça, estava enganada.

Ela tirou o casaco, e enrolou o bebê.

— Não chores, meu amor, por favor, durma, durma por nós,  por mim.

Deu-lhe um beijo colocando-o em meio as margaridas.

Ficou parada do lado oposto do canteiro, em lágrimas.

— Não se esconda maldita, acabas de desgraçar minha vida, desonrar meu nome, matarei a ti e ao teu filho.

Ao ser encontrada, não tinha  medo e sim uma coragem, que não sabia existir dentro de si.

— Onde está a criança?

— Se foi, nunca mais o verá.

A clássica acusação dos covardes, foi feita.

— Teu amante o levou. Não foi?

         Seu rosto sentiu a mão pesada do ódio.

          Ela caiu  de joelhos, esfregava as mãos uma sobre a outra, buscando um plano para continuar a viver.

         Batista a agarrou pelos cabelos, arrastando-a próximo ao canteiro de margaridas.

         — NÃO! — gritou.

         Os anjos sabiam, que não era por sua vida que temia.

         Com um  canivete, ele a golpeou, nas  mãos, no rosto, na barriga, no peito, sem descanso.

         Ao golpeá-la no pescoço, recebeu um tiro, na  testa, caindo morto, safando-se do julgamento terreno.

         O  delegado aproximou-se, da jovem e implorou que lutasse.

         — Cuide do meu anjo, diga que sempre estarei aqui, por ele.

         Ele não entendeu  seu pedido, mas assentiu com a cabeça, segurando suas mãos ensanguentadas, testemunhando seus olhos se fecharem e sua existência partir.

         Os corpos foram retirados da praça, mas o jovem delegado permaneceu  olhando para o canteiro das margaridas, e esse chorou ao raiar do dia.

 

Allana com os olhos marejados  buscou a mão do idoso,  e as segurou.

Olhou em seus olhos verdes como os seus,  acariciou e beijou seu rosto.

Sim, ela sempre esteve lá a sua espera.

Levantou-se o olhou mais uma vez sorriu, e foi dormir com as margaridas.

 

Onze de  maio de 2019.

         O dia mal havia começado e Allana percorria a  praça, indo sentar-se de frente a seu canteiro preferido de margaridas.

         Notou a aproximação de um velho que andava apoiando-se em uma bengala.

         Espero que não sente ao meu lado — pensou — mas ele sentou-se, sorriu, ela sem saber a  razão,  não impediu o intruso de ficar.

 

Inspira-se angústia, expira-se alívio.

 

 Autora: Viviani Ketely©

Todos os direitos reservados ao autor.

ISBN n.º 978-65-00-30642-2




26.9.21

Fragmentos

Trecho do Livro: O menino do deserto.


Não costumo tentar explicar o inexplicável, ou questionar o tenebroso, o racional, o irracional, o lúcido ou o louco.

Você está dirigindo em uma noite escura chuvosa, o carro quebra,  justo quando está sozinho.

Você procura ajuda, um telefone, não encontra. Depois de uma breve caminhada. Você se depara com uma casa em meio ao nada.

Uma casa em ruínas, não é estranho o quanto ela lhe parece familiar, embora você nunca, tenha estado ali antes, talvez os escritores e os loucos expliquem tantas coincidências, tantos clichês.

Você está com medo, apavorado, sente algo errado.

Então por que diabos você entra?

Você entra porque precisa de respostas, na sua infortunada vida.

Lá dentro os olhos do inexplicável começam a lhe observar. Sentindo em você uma porta generosamente aberta para a psicose e quando sair a estará levando consigo.

Nada existe ou jamais existiu, nada dento daquela casa, mas a sensação de que houve uma história ali, que algo um dia aconteceu, lhe faz arder. Então você sente  o obscuro, o invisível.

Não se pergunta às vezes por que ninguém nunca os vê? Ninguém nunca os toca? Porque os miseráveis insistem em lhe perseguir em estar ao seu lado? Não se esqueça. Foi você quem abriu a porta.

Você luta contra sua alienação mental, mas está sempre a procurar algo atrás das cortinas, a outra face no espelho.

Teme em ficar só, no entanto, desce escadas escuras no meio da tempestade.

Não há nada a sua frente, então como escapar da dormência da sua racionalidade?

Antes de dormir você olha embaixo da cama, suspira aliviado, por nada ver. Será?

Subitamente abre as portas do armário e ali está o objeto do teu medo da tua agonia, o nada, novamente.

Você se sente só incompreendido emotivo.

Precisa fazer, a clássica pergunta sem ela nada estaria completo.

“Quem está aí?”.

Tolo!

No fundo, sabe que não haverá resposta, mas se um dia ele resolver dizer: “Eu”.

Você pensará, quem será este “eu” que nunca vi? Não sei seu nome, não participei, de sua vida, não toquei seu corpo, quem afinal ele será?

Eu lhe digo, ele é apenas fragmentos de sua própria história.

Um dia que compreenderá por fim.

Que os esquecidos os incompreendidos os possuídos não apenas servem a sua demência como se alimentam dela!

Você precisa voltar ao princípio a “casa” as ruínas para encontrar a resposta.

Aquela mesma que você nunca terá…

Porque você é um tolo em acreditar, ser preciso um caminho a ser encontrado, se você fosse sábio você faria.

 Autora: Viviani Ketely

 

25.9.21

Moralidade Vazia

 


Moralidade Vazia

Mostre-me

Pássaros cruzando o céu

Desenhando traços de nossas vidas

Aponte-me

O vento soprando enquanto

Nuvens desenham  formas coloridas

Revele-me

A vida passando sobre nós

Explodindo em palavras difíceis de entender

Responda-me

O que há sob nossa pele?

Se a morte começa onde os sonhos terminam?

Não esconda  nossos desafetos

Da minha satisfação

Ensine-me

Como podemos ficar presos?

No pecado original

Enquanto acendemos nossa insolência

Desmontamos a moralidade vazia

22.9.21

Insônia


 Insônia

           

Encosto minha cabeça

Em seus ombros nus

Procuro uma forma

De agradá-la 

Para que, me abandones 


Enquanto persisto 

Em um leito de lembranças

Tola!

Aceito nosso último beijo

Por minhas noites, livres enfim.

10.9.21

LIBERDADE




 LIBERDADE


Será que tu repousas em meus pensamentos

Junto a delírios sepultados, de onde não  lhe alcanço

O que temes

Os olhos punitivos, as palavras ácidas, os medos velados?

 Sonhos interrompidos, o corpo cansado,  as mentes decrepitas?

Não temas

Grite, viva, não se escondas, seja a vergonha dos imaculados

A loucura dos sem rumo, o gozo dos amantes

A felicidade dos infelizes, a ruptura da imposição

Mostre-se Liberdade

Não se curve diante a meia luz

Das grades sociais.


4.9.21

Resistência

 


Resistência

Não há um ponto a retornar apenas siga.

Resista a esta sociedade viciada em ideias prontas.

Quebre as regras criadas,  para mantê-lo livre de seus pensamentos.

Seja a criança que costumava ser.

Enfrente seus heróis você não é um soldado.

Não receba ordens.

Não aceite que controlem sua mente.

Mantenha-se livre das drogas liberadas pelo poder.

Consuma pensamentos livres e errantes.

Não aceite ideias, atos e mensagens  pre-determinados.

Por uma sociedade corrupta.

Você não é mais um.

Resista. Insista!

Não permita que te acorrentem, que te amedrontem.

Insista. Resista!

Não se cale, seja a voz a ser ouvida.

O limite a ser vencido.

Por aqueles que se incomodam.

Por você ser a resistência.

Diga aos seus.

“Juntem-se a mim e RESISTAM''.




27.8.21

Únicas

 




Únicas

 

Já sentiu a chuva fria depois de um dia de sol seus pés beijando a areia quente suas mãos carregando água fresca a boca o vento beijando seu rosto suado o cheiro doce de uma flor deitou-se com um desconhecido sentiu frio em uma tarde de verão amou sob um céu coberto de estrelas beijou o espelho tomou banho de roupa deixou o sorvete ir ao chão chorou vendo um filme de amor sentiu medo quando ele fechou a porta comprou coisas que nunca usou carregou o mundo em sua bolsa sentiu que aquela música falava de você afogou as mágoas em uma caixa de chocolates odiou vingou-se arrependeu-se sentiu-se feia gorda magra despenteada insegura decidida namorada esposa amada amante menina mulher assim sou eu assim e você assim é um pouco de todas nos esteja onde estivermos somos quem somos lindas feias ricas pobres conhecidas desconhecidas casadas solteiras mães filhas netas castas despudoradas brancas negras asiáticas cabeludas carecas religiosas ateias clássicas elegantes despojadas reais sonhadas desenhadas pintadas fotografadas realizadas frustradas amadas rejeitadas frágeis fortes anjos demônios somos caminhos curvos perguntas sem resposta somos sangue somos ventre somos únicas

únicas?!!?


 

19.8.21

O menino do deserto

 

O menino do deserto.


''morto ao alçar a voz''


Amor

alenta-te

amor

levanta-te.

 

O menino do deserto

perambulava solitário fincando os pés na areia

falando do céu e de escorpiões

trazendo miseras e suadas tâmaras

deslizando como um anjo entre as brumas arenosas

brincando próximo ao minarete

suflando o vento

percorrendo uma rua sem volta.


    Menino

não me diga que os rios não correrão mais

que se afogarão em areias

não me diga que se perde

aquilo que não se tem

não me deixe levar por seus tolos pensamentos

reais.

 

Menino

não me diga que as almas

desaparecem nas montanhas

onde renascerão na noite seguinte

não me diga que a fé não

nos irmanará

não me diga que desiste

de mim.

 

O menino do deserto

brincava de vida

destinava comiseração

arfava-se de dor

o menino do deserto

desenhou o celerado

acenou sorrindo

até verter

a vermelha fé.

 

Amor

regresse

amor

leve-me

ao fim.


16.8.21

LUA

 

 

                                                  

                                                           LUA


Caminhe lentamente

Sobre meu corpo

Dê-me suas mãos

Brancas

Seu beijo doce

Sob a lua densa

Nua

Calada

Ame-me.

Como a mais perfeita

E cálida

Homenagem

Caminhe por entre

Os vales escondidos

De minha alma.

Emudeça meu silêncio

Refresque meu corpo

A lua nos trará

Lembranças

Dessa  noite

Que se banhou

De tolos pensamentos

Em serenata

Que se faça

A  áurea

Sobre nossos corpos

Perdidos

Refugiados em encantamento.

Guie meus lábios

Em direção aos seus

Entrelace minhas mãos

Nas suas úmidas mãos

Absorva os segredos

Da lua

Ela admira sua coragem

Ela contempla

Nossa adorável tolice

Na noite serena

Branca e cálida

Somos perdoados

Pelo céu, pela lua

Por sermos

Apenas um.


14.8.21

LIVRE

 

LIVRE

Caminho sob as sombras da ignorância

Sigo passos desenhados pela hipocrisia

Encontro-me em meio a rostos desnudos

De sorrisos cavilosos

Assino as regras impostas por uma

Sociedade servil desesperada

Em busca da vida conformista

Previamente descrita

Artificialmente rebuscada

Por burgueses inexatos

 

Posto-me diante da esfinge ‘humana’

Que me devora por minha inabilidade

Buscam a ‘incoerência’ dos meus atos

No grande livro das condutas toleráveis

Julgam minha cor, meu corpo, julgam minha fé ou a falta dela

Julgam minhas roupas, meus cabelos e até minha libido

Enquanto   psíquicos mestres

Assinam o veredito

“Inapta ao convívio da sociedade moral’’

Munidos de suas verdades encerram ‘a liberdade’

 

 

Agiganto-me derrubo o embuste

Dilacero as amarras, retiro a  casca imposta

Regozijo na indecência da decência dos castos

Purifico-me na alma dos impuros, puros

Beijo cinicamente a face dos acéfalos, cultos

Saboreio a amizade dos meus

Abraço os que me são caros

Agradeço a compreensão dos incompreendidos

Enquanto aguardo o pedido de perdão: dos ignorantes

Grito: Enfim LIVRE!


12.8.21

NATURAL

 



NATURAL

Pousado em teu seio quente.

A relva do amanhecer.

Guarda tuas lembranças.

De longínquos momentos brandos.

 

Teu grito ecoa solitário.

Perdido, despido.

Arrependido.

 

Tuas águas mornas.

Dragam-se nas rupturas humanas.

 

Quem há de cuidar de ti?

Eu? Que tão pouco sei de mim!

Que não dou mais, que um passo.

Sem te ferir, sem lançar sobre ti.

Os malefícios da modernidade.

 

Tu que era tão bela, tão jovem.

Traz agora marcas indeléveis.

Em tua face azul.

 

Teus seres outrora livres.

Agora se veem aprisionados.

Enjaulados, acuados.

Tristes, perdidos.

 

Tuas vestes vivas, coloridas.

Agora são moldadas, refeitas, recicladas.

 

Esperamos tanto de ti.

Tiramos tanto de ti.

Em troca derramamos por todo o teu corpo robusto.

Nossos refugos, nossos dejetos nossa ignorância.

 

Ainda me lembro de ouvir falar que tu.

Um dia foi tão verde que parecia ser eterna.

Ouvi falar que tuas águas límpidas, sagradas.

Eram inesgotáveis!

Mentiras que cresci querendo acreditar.

 

Sei que ainda guarda, belos prazeres, em forma de cenários.

Que não fiquem!

Futuramente aprisionados, refugiados.

Apenas em lembranças, pinturas ou fotografias.

 

Desejo-lhe vida longa, infinita!

Que meu último beijo seja em tua boca ‘’Natural’’!

Tua boca de “Terra”.


Imagem:

<a href='https://www.freepik.com/photos/nature'>Nature photo created by wirestock - www.freepik.com</a>

11.8.21

O Samba

 

O Samba

O samba, não mora mais aqui

fez as malas e partiu

para onde ninguém viu.

O samba, carregou a felicidade

deixando a saudade

do mestre que partiu.

A lua ilumina a pobreza

dando de cara com a certeza

que a força mora aqui.

Com os meninos

deixou a esperança

e o ouro

em seus pés.

Na roda canta-se a tristeza

misturada com a incerteza

de que o samba, não vai mais voltar.

O samba

ouviu todos os lamentos

resolveu do firmamento

então voltar.

O samba chora a saudade  de outros tempos

quando vestido de majestade

andava de braços dados

com a liberdade.


Imagem de Luciano Raul Mazeo por Pixabay

10.8.21

Escrever

 


Escrever?

Escrever é grato, lúdico, prazeroso, esclarecedor.

Discordo!

Escrever é penoso, ingrato, desafiador.

Cada linha, uma sentença, cada página uma tortura.

Sofrimentos, desilusões, por fim fracasso.

Escrever é se agarrar em caminhos escuros, parcos, inverossímeis.

Se pôr à espera do julgamento filosofal.

Do travestido de bom entendedor.

Daquele que te pune, que te ignora, por não ser o próprio.

Objeto de tuas linhas.

Escrever é sangrar na minha ignorância.

É estar sozinha, sempre.

EU

                                                                 Eu   “C” confesso não ser de toda má tampouco estar nos braços ...