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1.11.23

EU



                                                    Eu

 

“C”

confesso

não ser de toda má

tampouco estar nos braços

da benevolência

sou um anelo vital

moldada ao prazer

de um déspota

trago em meu corpo

marcas profundas

cravadas em lembranças

longínquas de incoerentes

reminiscências presentes

não nasci infância

forjaram-me ferro

tiraram-me a graça

entorpeceram-me

a vida

 

 

“A”

de todos os momentos

que a vida me trouxe

um insiste em sobreviver

aquele cujo habitante

fecha meus olhos

à noite para beijar-me

as sombras da existência

deixando um gosto único

doce, frugal...

Ainda sinto seu cheiro

impregnando meu frescor

absorvendo a seiva

de minha boca

ainda guardo seu sorriso

dentro de meu ser

recordo de seus olhos

tragando minha alma

enquanto você

sustenta-me no vazio

se hoje

pudesse lhe fazer saber

que erro ao lembrar-me

e peco em não lhe esquecer

 

 

...você que se faz

em minha inacessível fé

que toca suavemente

meus crédulos

e me faz acreditar

neste irracional

funesto é vivaz ser

a quem se deve chamar

de amor

 

“D”

devo a você

a crença de que 

possuo sentimentos

humanos

ainda que minha existência

seja duvidosa

eu busquei lhe no amanhecer

meus olhos

cobriram-se de névoa

e quando compreendi

que lhe perdi chorei

reinventando a

dor

 

“F”

eu que por odiá-lo me fiz dia

por amá-lo me fiz noite

e por perdê-lo me fiz fim


 

 


 

2.5.22

Meu senhor


 Meu senhor

Não me maltrates

Não me puna, não torture

Não dilacere minha alma

Não me enterre   'Me sufoca'

Não olhe, nos meus olhos

Verás toda a verdade

De quanto lhe desprezo

Meu senhor

Não me vença

Pelo medo

Não me guie em desespero

Não me castigue

Por favor

Meu senhor

Não me tire a inocência

Não despreze meus desejos

Não quero seus cuidados

Não chore por meu amor

Meu senhor

Tome cuidado

Não feche os olhos

Ao cair da noite

Mantenha-se acordado

Ao meu lado

Não se arraste

Pedindo meu perdão

Meu senhor

De me seus lábios

Beijá-los-ei com cuidado

Deitarei mel em sua boca

Serei breve em minhas palavras e eterna em odiar-lhe

Meu senhor

Sangrarei em dores

Depois do desejo

De cortar sua garganta

Meu Senhor

Liberte-me do teu amor insano

Liberte-me!  

Meu senhor

Olhe o que fez

Impôs-me o eterno castigo

Em desejar e não conseguir

Matá-lo


28.3.22

Língua Estranha

 


Língua Estranha


Sento-me diante da besta de feições falhas

Carregada de emoções reprimidas

Vagando entre os lábios da ignorância

'Cortando' a língua estranha

Ouvindo vozes indolentes

Que se colocam

À frente das palavras malditas e escondias

Dos que se dizem pensadores

Mas é apenas engodo

Do romantismo estúpido

Que fala do 'eu'

Assumidamente costurado

Na imbecilidade humana

De tolos que se digladiam

Que sucumbem à racionalidade - ao inferno com ela

Tolos traídos pelo ego

Pela soberba

Tolos que absorvem a religiosidade

Tentando esconder

O demônio que habita em suas cabeças

Proletários da bestialidade

Discutam! Falem!

Hipócritas

Deem o final poético e patético

Coerente a cada um.



21.3.22

QUE BELO!

QUE BELO!

'' Do findar ao principiar soarão os sinos''

(A Bela Morre.)

Que belo

Ela dança

Entre os anjos

Que belo!

Que triste

Soaram os sinos

Que triste!

Que triste

Ela morreu

Que triste!


(O amor mata.)

Lágrimas não bastam

Tampouco todo seu amor

As mãos fortes e tremulas

A sufocam

Tiram-lhe o ar

Tiram-lhe os sonhos

Tiram-lhe tudo

Tudo!

Ele a beija

Sedento de amor e desespero

Perdido em um caminho sem volta

Ele busca palavras

Que não tem

Ele chora!

Ela...lamenta

Ele derrama suas mãos

Sobre ela

Ele grita de satisfação e arrependimento

Os anjos não parecem ouvi-lo

Ela sim

Ela sim! 


(A paixão cega.)

Seus lábios esperam

Por um beijo

Seu coração

Quer libertar

Todo  amor

Contido

Escondido!


(O mal espreita.)

Seus passos são largos

Na estreita rua escura

Ela não o vê

Ele a busca com firmeza

Ela se volta

Que bom

Que veio

Ela sorri!


(O belo é coroado.)

Que belo!

Depois dos aplausos

Recolhem-se todas

As pétalas

Do fim do espetáculo

Levemente ela toca

Seus pés nas nuvens

Suas mãos deslizam

Seu corpo se inclina

Que alívio

Acabou! 


(A inveja persegue.)

Os olhos dele seguem os comprimentos recebidos

Os olhos dele seguem todos os olhares

Que a ela, são dados

Ela se deslumbra

Ele arde de ódio

Ódio!

Que belo!

Soaram os sinos

 

(O cair se levanta)

Rostos estranhos estão à sua frente

Carregados de sentimentos, sofrimentos, desapego

Que estranho

Ela sente!

Suas mãos buscam as mãos seguras e frias

De seu par

Seu sorriso está escondido

Sua decepção

Ela vê!

Ela dança

Em um suave levitar

Ela cai

Que inevitável

Ela cai!

 

(A beleza toca.)

Levemente ela desliza

Vai de um lado a outro

Todos os olhares a acompanham

Ela é absoluta

Ela é única

Que triste

Única!

 

Ela dá o primeiro passo

Sussurra proteção

Ela gira, lindamente ela gira

Seus pés cortam o ar

Desenham o belo

O sagrado

A arte!

A ansiedade toma a todos

Que compartilharão os aplausos

Até o soar dos sinos

Dos sinos!

 

(O espetáculo começa.)

Abrem-se as cortinas

Enfim

Abrem-se as cortinas

Púrpuras cortinas!

A espera é longa

Ela disfarça

Sorri

Reza

Ela reza!

Em passos largos

Caminha em direção

Ao palco

Tão feliz

Tão feliz!

Seu rosto e coberto em áurea brilhante

Seu corpo envolvido

Em véus de estrela

Que linda

Que linda!

Enfim

Hoje soarão os sinos

Enfim! 

''Do principiar  ao findar soaram os sinos''


4.3.22

Lembre-me


'LEMBRE-ME'


Não esqueça: de lembrar-me.

Que não devo partir durante a noite!

Tampouco ficar sem ter contigo durante longos dias.

Faça-me jurar

Que serei teu para sempre!

Ao contrário de ti.

 

Mande-me assinar

Um termo de compromisso

Diante de um sisudo homem da lei

Que todos os dias: lhe trarei uma rosa.

Por mais que me custe.

 

Por Deus prometo todas as tolices que me pedes.

Caminhar entre as flores, andar de mãos dadas.

Desenhar corações na areia

Reparar na tua roupa, gostar do teu cabelo.

Lembrar a ti todos os dias.

Que es perfeita!

 

Como você quiser!

Dançaremos ao luar

Falaremos do meu passado

Eu lhe juro

Pedirei perdão pelo que fiz.

É pelo que tu insistes em dizer que fiz.

 

Serei teu escravo

Acorrentado em teu corpo de ninfa.

Sedento por tua boca

Clamando clemência

A ti que es a razão

Da minha existência.

 

Serei um menino

Diante de tua força

Esconder-me-ei.

Por trás de teus cabelos

Dentro de teus olhos de deusa absoluta

Buscarei proteção.

 

Deitar-me-ei na areia a tua espera.

Confessarei alegremente as estrelas

O eterno suplício, a que me obrigas.

Por te querer tanto

Prometo confessarei.

 

É tu

Conduziras meus desejos

Ao prazer dos teus

Murmurarei em teu ouvido

Que es a única

Que jamais houve ninguém

Que amei, como a ti.

De todas às verdades que lhe foram ditas.

Esta é a única que vale.

Ser lembrada.

 

Chorarei a cada partida

Por mais breve que dure.

Serei forte

Não lamentarei.

Enxugarei tuas lágrimas

As compreenderei, sempre

Sabendo que não são para mim.

É sim, por mim.

 

Brincarei de te possuir

De ser teu dono

De fingir que não me incomodo.

Com o teu tão presente abandono.

Absolverei toda a tua culpa.

Serei sua vítima passível.

 

Lembrarei a todo momento

Que sou um homem de sorte!

Que o deserto me trouxe você.

Direi sempre que es a mais bela.

Entre todas as black iris.

A mais perfeita montanha de Wadi Rum.

 

Em troca!

Quero o teu sorriso

Teus sonhos infantis

Tuas tardes livres

Toda a falsidade e mentiras.

Que saem da tua

Inocente boca.


(Amin para Hanna — Livro: O menino do deserto - Viviani Ketely)

 

11.2.22

 HENRY GALLES - PERSUASÃO


"Existem alguns instintos que deveriam ficar sepultados, escondidos de nós.

Meus instintos por vezes ficam adormecidos e de tempos em tempos ressurgem como fogo em mato seco. Se controlo? Não controlo!"

Uma história sob um único ponto de vista, causando surpresa, perplexidade e por fim, uma vontade incontrolável de permanecer como espectador dentro dela.

Henry Galles, um personagem que se constrói entre confissões e sua persuasão.


 Lancei meu livro (formato ebook) pela Amazon 

Link: https://www.amazon.com.br/dp/B09SBNPFDN

Este livro é o primeiro de três livros. De fácil leitura, interessante e peculiar, já que tudo o que acontece e detalhado pelo personagem principal Henry Galles (um homem que acredita ser muito persuasivo. Será?

Por favor, ficaria muito feliz se vocês pudessem dar uma olhada, nem que seja uma olhada mesmo 😊




 


29.1.22


 

Rascunhos

 

Caminho por minhas memórias

não posso voar

não me lembro como fazer!

 

...A vida

derrama-se em dúvidas

não há uma segunda chance.

A vida

derrama-se em enganos

não há respostas.

Palavras não duram

do outro lado

serão apenas rascunhos

da nossa existência.

ANINHA PAGIOSSI: MENINABAILARINA Mamãequero ser umabailarinana pon...

ANINHA PAGIOSSI: MENINABAILARINA Mamãequero ser umabailarinana pon...: MENINA BAILARINA   Mamãe quero ser uma bailarina na pontinha do pé ficar girar bem pequenina e a todos encantar.   Mamãe q...

19.1.22

 



Demônio de Ninfa

 

Ela anda balançando as ancas

mordendo os mimosos dedinhos

Demônio de ninfa

lança pedrinhas

em minha decência

enquanto dobra os joelhos

sobre minha imaginação

Demônio de ninfa

afoga-me em seu ser cruel

testando minha lucidez

olhado-me com olhos pedintes

enquanto arranca minha alma

Demônio de ninfa

usa-me a seu favor

enquanto sorri esmagando

as flores vivas

em meu peito

Demônio de ninfa

atira-me a temeridade

molhando suavemente a boca

pisando-me acaloradamente

Demônio de ninfa

arqueia meus membros

lança-me ao eterno

Demônio de ninfa

morro supliciado

a seus pés




ANINHA PAGIOSSI:   Pudim, Panqueca e Amendoim Pudim,Panqueca e Ame...

ANINHA PAGIOSSI:   Pudim, Panqueca e Amendoim Pudim,Panqueca e Ame...:   Pudim, Panqueca e Amendoim  Pudim, Panqueca e Amendoim Não são apenas pra comer Se te contar você vai entender Que Pudim, Panque...

27.10.21

MENTIRAS

 MENTIRAS


"Todos somos iguais"

Diga ao bater as portas de um palácio.

"Siga sempre teu caminho"

Qual?

"Não mintas"

Fale sempre a verdade diante de teus inimigos

"A paz é o que importa"

É o que costuma sair da boca dos ditadores

"Adultério e crime"

Por que perdoa? Por que traí?      

"Não inveje as coisas alheias"

Tire os olhos daquilo que não é seu

"Todos merecem o céu"

Repita quando estiver no inferno

"Não seja orgulhoso"

Aceite o gozo alheio

"Tenha fé"

Não esqueça dela no enterro de seu filho

"O pouco basta"

Festeje quando não sobrar sequer um naco de pão

"As mães são sagradas"

Mesmo as que abandonam?

"Sou livre de preconceitos"

Pare de separar povos: por raças

"Não insulte"

Portanto aceite de bom grado, as dirigidas a você

"Não revide"

Ofereça sua 'cara' com prazer

"Meu pai, meu herói"

Sempre, mesmo quando não souber quem é o seu

"Nada vale mais que um sorriso"

Principalmente daquele que te venceu

"Lágrimas traduzem a verdade"

Mesmo a dos traidores

"Cada um têm aquilo que merece"

O que realmente merecemos?

"Que o homem não separe aqueles que Deus uniu"

Viva infeliz

"O amor é eterno"

Diga adeus sorrindo quando for abandonado

"O dia é belo"

Os apaixonados preferem a noite

"Vive-se apenas uma vez'

Não carregue lembranças das 'outras'

"Aceite teu destino"

Toma para si todas as dores

"Sempre haverá alguém a teu lado"

Se não encontrar a 'mão amiga' na hora da sua morte, lamente-se sozinho até seu fim

"Deus é único"

Verdade! Então por que dividi-lo?

"Diga sempre a verdade"

Mentira!

"No abandono ou no tormento encontrará forças para prosseguir"

Verdade?


5.10.21

O canteiro das margaridas.

O canteiro das margaridas.

 

Aspira-se polem, expira-se flor.

 

 Onze de maio de 2018.

Os dedos de Allana percorrem delicadamente as margaridas, repousadas em canteiros, ela inspira profundamente levando até seus pulmões o frescor da manhã.

Seus pensamentos entorpecidos, despertam com uma figura estranha correndo animadamente, seguida por outras percorrendo o mesmo caminho, com a mesma avidez.

Allana adentrou o coração do jardim, não desejava a companhia incômoda, de atletas matinais.

Usava um vestido azul de botões e não se perdoou por esquecer o casaco.

Sentou-se em seu banco cativo, de frente ao mais belo e robusto canteiro de margaridas, tão denso que era quase impossível observar o solo.

Em  seu lugar de sempre, perpetuava pensamentos enquanto, embebia-se da seiva branca, dançando ao vento.

Allana esfregava as mãos, em um movimento repetitivo, ora a esquerda sobre a direita, ora a direita sobre a esquerda, continuadamente sem pausa, sem descanso.

— Com frio?

Perguntou-lhe um idoso, cuja aproximação não havia pressentido.

 Que inconveniente —  pensou.

— Posso me sentar?

Não desejava ser rude com o senhor, então mesmo a contragosto consentiu.

— Tenho um casaco extra, posso lhe oferecer, espero não estar sendo abusado.

Era tudo o que ele estava sendo, mas novamente Allana concordou.

O velho entregou-lhe o casaco.

— Obrigada. — respondeu — Costuma sair com dois casacos?

— Às vezes.  Admirando as flores?

— Sempre!

— Este canteiro é o mais antigo da praça, tem mais de cem anos, margaridas morrem, margaridas nascem, e ele sempre estará aqui.

— Sempre venho aqui e não me lembro, de tê-lo visto.

— Nem sempre nos damos conta,  do que está em nossa frente.

— O senhor é um poeta?

— Não, sou só um velho. Meu nome é Danrlei. Qual é o seu?

Allana  sorriu,  era um  senhor educado, talvez tão solitário quanto ela, procurando apenas, alguns minutos de conversa amena, concluiu.

— Amo margaridas,  o senhor gosta?

— Muito!

— Em especial gosto destas aqui. — Allana completou.

— Este canteiro traz uma triste história, uma mácula.

— Mesmo! Estranho nunca ouvi falar.

— Foi a muitos anos, quantos anos tem?

— Vinte e três.

— Foi a oitenta anos, não me admira que nunca tenha ouvido.

— Gostaria de ouvir se não for lhe incomodar.

 

Batista sentou-se a cabeceira da mesa, esperando o jantar, ser servido por sua jovem esposa, enquanto preparava seu cigarro.

Suas mãos tremulas  colocavam a comida no prato do marido.

— O que de útil  a senhora  fez hoje? — Perguntou a esposa.

— Meus afazeres, de sempre, senhor.

— A casa está suja, há pó na mobilha, a escada não foi lavada, minhas camisas não foram  engomadas, meus sapatos não estão polidos, quer que continue?

— Peço perdão senhor,  a barriga, já  me é muito pesada.

A jovem puxou a cadeira para sentar-se à mesa, então foi advertida.

— Não sente, não me aborreça com sua presença.

Menos de trinta dias depois a jovem esposa, deu à luz ao primeiro e único filho do casal.  Um menino forte de olhos verdes como os da mãe.

Ao contrário do que ela imaginou, Batista só aumentou sua crueldade, sem família, casada com um homem trinta anos mais velho.  Ela  decidiu-se pela fuga, qualquer coisa era melhor que aquele inferno.

Carregaria consigo poucas roupas, algum dinheiro do avarento, pois, sabia onde ele o escondia,  seu filho  de dois meses e  toda a coragem que ainda lhe restava.

Partiria para  Porto Alegre, e de lá para São Paulo, na certeza de que Batista,  jamais os encontraria.

A noite de sexta-feira, era perfeita, o marido jogava carteado, regado a vinho  com os amigos e  mulheres, quase sempre chegando bêbado ao raiar do dia.

Vinte três horas marcava o relógio, a jovem partiu com o filho nos braços.

A lua de uma noite fria de maio, não apenas  iluminava as ruelas escuras,  como também  a delatou a um amigo de seu marido, ela apressou-se, dando-se conta que não demoraria para ser alcançada.

Imaginou  que sua única chance era esconder-se nos jardins da  praça, estava enganada.

Ela tirou o casaco, e enrolou o bebê.

— Não chores, meu amor, por favor, durma, durma por nós,  por mim.

Deu-lhe um beijo colocando-o em meio as margaridas.

Ficou parada do lado oposto do canteiro, em lágrimas.

— Não se esconda maldita, acabas de desgraçar minha vida, desonrar meu nome, matarei a ti e ao teu filho.

Ao ser encontrada, não tinha  medo e sim uma coragem, que não sabia existir dentro de si.

— Onde está a criança?

— Se foi, nunca mais o verá.

A clássica acusação dos covardes, foi feita.

— Teu amante o levou. Não foi?

         Seu rosto sentiu a mão pesada do ódio.

          Ela caiu  de joelhos, esfregava as mãos uma sobre a outra, buscando um plano para continuar a viver.

         Batista a agarrou pelos cabelos, arrastando-a próximo ao canteiro de margaridas.

         — NÃO! — gritou.

         Os anjos sabiam, que não era por sua vida que temia.

         Com um  canivete, ele a golpeou, nas  mãos, no rosto, na barriga, no peito, sem descanso.

         Ao golpeá-la no pescoço, recebeu um tiro, na  testa, caindo morto, safando-se do julgamento terreno.

         O  delegado aproximou-se, da jovem e implorou que lutasse.

         — Cuide do meu anjo, diga que sempre estarei aqui, por ele.

         Ele não entendeu  seu pedido, mas assentiu com a cabeça, segurando suas mãos ensanguentadas, testemunhando seus olhos se fecharem e sua existência partir.

         Os corpos foram retirados da praça, mas o jovem delegado permaneceu  olhando para o canteiro das margaridas, e esse chorou ao raiar do dia.

 

Allana com os olhos marejados  buscou a mão do idoso,  e as segurou.

Olhou em seus olhos verdes como os seus,  acariciou e beijou seu rosto.

Sim, ela sempre esteve lá a sua espera.

Levantou-se o olhou mais uma vez sorriu, e foi dormir com as margaridas.

 

Onze de  maio de 2019.

         O dia mal havia começado e Allana percorria a  praça, indo sentar-se de frente a seu canteiro preferido de margaridas.

         Notou a aproximação de um velho que andava apoiando-se em uma bengala.

         Espero que não sente ao meu lado — pensou — mas ele sentou-se, sorriu, ela sem saber a  razão,  não impediu o intruso de ficar.

 

Inspira-se angústia, expira-se alívio.

 

 Autora: Viviani Ketely©

Todos os direitos reservados ao autor.

ISBN n.º 978-65-00-30642-2




26.9.21

Fragmentos

Trecho do Livro: O menino do deserto.


Não costumo tentar explicar o inexplicável, ou questionar o tenebroso, o racional, o irracional, o lúcido ou o louco.

Você está dirigindo em uma noite escura chuvosa, o carro quebra,  justo quando está sozinho.

Você procura ajuda, um telefone, não encontra. Depois de uma breve caminhada. Você se depara com uma casa em meio ao nada.

Uma casa em ruínas, não é estranho o quanto ela lhe parece familiar, embora você nunca, tenha estado ali antes, talvez os escritores e os loucos expliquem tantas coincidências, tantos clichês.

Você está com medo, apavorado, sente algo errado.

Então por que diabos você entra?

Você entra porque precisa de respostas, na sua infortunada vida.

Lá dentro os olhos do inexplicável começam a lhe observar. Sentindo em você uma porta generosamente aberta para a psicose e quando sair a estará levando consigo.

Nada existe ou jamais existiu, nada dento daquela casa, mas a sensação de que houve uma história ali, que algo um dia aconteceu, lhe faz arder. Então você sente  o obscuro, o invisível.

Não se pergunta às vezes por que ninguém nunca os vê? Ninguém nunca os toca? Porque os miseráveis insistem em lhe perseguir em estar ao seu lado? Não se esqueça. Foi você quem abriu a porta.

Você luta contra sua alienação mental, mas está sempre a procurar algo atrás das cortinas, a outra face no espelho.

Teme em ficar só, no entanto, desce escadas escuras no meio da tempestade.

Não há nada a sua frente, então como escapar da dormência da sua racionalidade?

Antes de dormir você olha embaixo da cama, suspira aliviado, por nada ver. Será?

Subitamente abre as portas do armário e ali está o objeto do teu medo da tua agonia, o nada, novamente.

Você se sente só incompreendido emotivo.

Precisa fazer, a clássica pergunta sem ela nada estaria completo.

“Quem está aí?”.

Tolo!

No fundo, sabe que não haverá resposta, mas se um dia ele resolver dizer: “Eu”.

Você pensará, quem será este “eu” que nunca vi? Não sei seu nome, não participei, de sua vida, não toquei seu corpo, quem afinal ele será?

Eu lhe digo, ele é apenas fragmentos de sua própria história.

Um dia que compreenderá por fim.

Que os esquecidos os incompreendidos os possuídos não apenas servem a sua demência como se alimentam dela!

Você precisa voltar ao princípio a “casa” as ruínas para encontrar a resposta.

Aquela mesma que você nunca terá…

Porque você é um tolo em acreditar, ser preciso um caminho a ser encontrado, se você fosse sábio você faria.

 Autora: Viviani Ketely

 

25.9.21

Moralidade Vazia

 


Moralidade Vazia

Mostre-me

Pássaros cruzando o céu

Desenhando traços de nossas vidas

Aponte-me

O vento soprando enquanto

Nuvens desenham  formas coloridas

Revele-me

A vida passando sobre nós

Explodindo em palavras difíceis de entender

Responda-me

O que há sob nossa pele?

Se a morte começa onde os sonhos terminam?

Não esconda  nossos desafetos

Da minha satisfação

Ensine-me

Como podemos ficar presos?

No pecado original

Enquanto acendemos nossa insolência

Desmontamos a moralidade vazia

EU

                                                                 Eu   “C” confesso não ser de toda má tampouco estar nos braços ...