Eu
“C”
confesso
não ser de toda má
tampouco estar nos braços
da benevolência
sou um anelo vital
moldada ao prazer
de um déspota
trago em meu corpo
marcas profundas
cravadas em lembranças
longínquas de incoerentes
reminiscências presentes
não nasci infância
forjaram-me ferro
tiraram-me a graça
entorpeceram-me
a vida
“A”
de todos os momentos
que a vida me trouxe
um insiste em sobreviver
aquele cujo habitante
fecha meus olhos
à noite para beijar-me
as sombras da existência
deixando um gosto único
doce, frugal...
Ainda sinto seu cheiro
impregnando meu frescor
absorvendo a seiva
de minha boca
ainda guardo seu sorriso
dentro de meu ser
recordo de seus olhos
tragando minha alma
enquanto você
sustenta-me no vazio
se hoje
pudesse lhe fazer saber
que erro ao lembrar-me
e peco em não lhe esquecer
...você que se faz
em minha inacessível fé
que toca suavemente
meus crédulos
e me faz acreditar
neste irracional
funesto é vivaz ser
a quem se deve chamar
de amor
“D”
devo a você
a crença de que
possuo sentimentos
humanos
ainda que minha existência
seja duvidosa
eu busquei lhe no amanhecer
meus olhos
cobriram-se de névoa
e quando compreendi
que lhe perdi chorei
reinventando a
dor
“F”
eu que por odiá-lo me fiz dia
por amá-lo me fiz noite
e por perdê-lo me fiz fim